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Pertencer a um lugar


Lilian Rosa, Sandra Molina e Adriana Silva, representando o IPCCIC no projeto Ruas abertas em 30 de setembro de 2019. Ocupando as ruas.


Uma parte importante da relação entre pessoas e as cidades são os laços de pertencimento, uma espécie de ligação emocional que transforma espaços vazios de sentido em lugares cheios de significado para as pessoas. Esses laços são construídos e fortalecidos ao longo do tempo, por meio da observação, das vivências e do compartilhamento de territórios. Esse processo ocorre pela apropriação dos espaços por seus moradores.

A apropriação ocorre pela ação-transformação ou por identificação. No caso da primeira, o morador atua intencionalmente no entorno, colocando em suas atitudes cotidianas a intenção e a vontade de transformar positivamente sua rua, seu bairro e sua cidade. Com esse movimento, são gerados laços afetivos e o sentimento de pertencer e de se importar com o lugar onde se vive. Já a identificação ocorre, em maior ou em menor grau, por meio da interação não somente como o meio, mas também com a coletividade que representa a comunidade. Ela ocorre quando os indivíduos permitem-se estar juntos para compartilhar e articular soluções para os problemas do lugar onde vivem.

Vou usar como exemplo a história de uma grande amiga, Sandra Rita Molina. Nascida em Ribeirão Preto, muito jovem, ela saiu de cidade para estudar. Passou muitos anos em Campinas, onde fez amizades, participou de movimentos estudantis e realizou várias práticas sociais que a levaram a desenvolver uma forte identificação com esse município. Em determinado momento de sua vida, os imperativos da profissão a trouxeram de volta a terra onde nasceu. Em vários encontros para um café, eu a ouvi dizer: “não tenho relação nenhuma com Ribeirão, não sinto nenhum tipo de ligação com essa cidade, diferentemente de Campinas, onde eu me sinto em casa”. Assim foi durante alguns anos, até que o seu sentimento em relação a Ribeirão Preto começou a mudar lentamente. Tornou-se parte de um grupo de pesquisa, no qual passou a estudar a história do município; aceitou ser membro do conselho de preservação do patrimônio; envolveu-se com movimentos de melhoria da qualidade de vida da população; participou de grupos e conselhos para debater os problemas da cidade; adotou a prática de andar de bicicleta, observando as construções, praças e ruas por outra perspectiva. Aos poucos, quase sem perceber, laços entre ela e a cidade foram sendo criados, desenvolvendo um sentimento de pertença. Se perguntassem a ela o que sente, hoje, sobre Ribeirão, ela diria: “esse lugar me pertence e eu sou responsável por ele”. Pertencer não no sentido de propriedade. O que ela quer dizer é que agora ela se importa, que criou vínculos com a coletividade que representa o município.

Encontramos no exemplo da minha amiga alguns dos caminhos da apropriação dos espaços que são capazes de gerar identidade. Caminhos que levam o indivíduo a se projetar nos lugares e se apegar a ele, introjetando-os e transformando-os em um prolongamento de si mesmo e da sua casa, tornando-o em algo seu. Mesmo sendo nascida em Ribeirão Preto, minha amiga se sentia um indivíduo isolado das práticas e vivências que ocorriam no município. Agora, por meio da ação e da identificação, ela se sente parte de uma comunidade, uma cidadã ativa e responsável, que participa ativamente do local onde vive. Ela pertence a Ribeirão, e Ribeirão pertence a ela, mesmo que um dia resolva se mudar, esse sentimento gerou qualidade de vida enquanto aqui esteve.

Faço a todos o convite para experimentar o mesmo sentimento que minha amiga vivencia hoje: o de pertencer a um lugar e se importar com ele.

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